domingo, 15 de janeiro de 2017

Amador


Quem está aprendendo alguma coisa, deveria ser chamado de aprendiz ou iniciante, não de “amador”. Amador é quem faz algo por amor. Às vezes a diferença entre amador e profissional é só porque um faz por amor e o outro faz por dinheiro. Então o amador deveria ser mais valorizado, porque tem muitos “profissionais” que trabalham sem amor nenhum à profissão. Infelizmente o que faz alguém ser chamado de “profissional” é só porque sobrevive daquilo. 
Quantos escritores podem ser considerados profissionais? Poucos, não é? Uma vez li um escritor dizendo que o único escritor no Brasil que vivia só de livros, era Jorge Amado. Isso naquela época, porque agora tem o Paulo Coelho e deve ter mais meia dúzia.

O que faz um escritor ser considerado profissional?  É só editar um livro? É editar um livro e fazer parte da Academia Brasileira de Letras? 
No tempo de Drummond, Bandeira  etc, quando a poesia era mais “consumida”, todos os poetas sobreviviam como cronistas de jornais ou trabalhando em outras coisas. Nunca li algo dizendo que eles sobrevivessem de literatura. Será que eles eram considerados “amadores” na época?
Vender livros hoje em dia está muito difícil. Além do povo não ser muito chegado à leitura, os livros estão muito caros. O povo não tem dinheiro nem para se alimentar direito. Como viver de livros? Conheço alguns poetas que se esforçam para editar um livro, e depois saem vendendo de bar em bar... Tem muita gente que compra, só por comprar. Quando chega em casa joga o livro em um canto ou fica usando para “guardar contas”.
Uma vez encontrei uma amiga, que eu sabia não ter a menor simpatia por poesia, com o livro de um poeta (conhecido meu) nas mãos. Aí eu falei: eu conheço esse poeta, nós já participamos de alguns grupos e eventos. Onde você comprou? Ela respondeu: eu estava em um bar com meu namorado, aí ele chegou, perguntou o nosso nome, escreveu e: dez reais.  Eu ia até perguntar se ele te conhecia, mas desisti. Então eu falei: poxa menina, deveria ter perguntado! Eu queria saber o que ele iria dizer... Depois você me empresta esse livro? Ela prontamente tirou dois recibos de dentro do livro e perguntou-me se eu queria uma revistinha que estava em minha mão. Entreguei-lhe a revistinha, ela botou os recibos dentro e entregou-me o livro dizendo: tome, fique.
Aí eu pergunto: quantas pessoas que ele vendeu o livro, fez essa mesma coisa ou pior? Esse pelo menos veio parar em minhas mãos e está guardado. Mas quantos já se acabaram sem ninguém dar uma “olhadinha”? E o poeta chega em casa achando que as tantas pessoas que compraram seu livro, estão conhecendo seu trabalho...
Será que vale a pena fazer isso?

AJ Cardiais
07.01.2012
imagem: A.J. Cardiais

Um comentário:

Ana Bailune disse...

Pois é...

Meu primeiro e único livro de papel foi uma homenagem ao meu falecido sobrinho, e eu paguei por ele. Depois, só publiquei virtualmente pela Amazon, porque é grátis. Tentei a Saraiva, mas achei complicadíssimo, e ainda por cima, depois de me convidarem para fazer parte da biblioteca virtual deles, sumiram com as xerox dos documentos que mandei a eles por correio. Clube do Livro também não me adaptei, não gostei muito. Eles demoram um século para fazer uma entrega.

Prefiro continuar nos meus blogs e no Recanto.

Mas eu acho que escritor é aquele que vive do que escreve, publica e é pago para isso, como naqueles filmes americanos em que os escritores recebem adiantamentos das editoras para que possam apenas escrever. Eu não sou escritora, e jamais conheci um nos lugares nos quais publico. Tem quem "se ache," que porque publicou alguma coisa pensa que é consagrado, famoso, respeitado, amado, etc, etc, mas é tudo ilusão.

Tudo ilusão.