sábado, 26 de novembro de 2011

É Preciso Curiosidade


imagem: google

Eu posso estar enganado, mas defendo uma tese: ninguém precisa cursar uma faculdade de Letras, para ser Poeta. Primeiro porque a faculdade não forma ninguém em "poeta". Como todas as artes, ser poeta é um dom. E se for olhar na história, os nossos poetas de renome não cursaram Faculdade de Letras. Cursaram Direito, Farmácia e etc. Eu, depois de estar trilhando pelos caminhos da poesia, fui fazer Letras pensando em dar mais “peso” à minha poesia... Só cursei quatro semestres. Vi tanta coisa, que achei que acabaria me perdendo. Depois, lendo sobre Paulo Leminski e sobre Fernando Pessoa, fiquei sabendo que eles também abandonaram a faculdade de Letras. Juro que fiquei mais aliviado. Mas não é o certo pois uma Faculdade é muito importante. Ela sempre abre novos horizontes. Contudo a questão aqui é sobre a curiosidade. Então vamos ao que interessa: Escrevi uma crônica (Eu, Um Anti Poeta?) que deve ter mexido com os brios de muita gente. Inclusive com o meu. Vou tentar explicar-me: eu acho que todo mundo que se arvora a escrever poesia deve, pelo menos, procurar saber um pouco a história da poesia e sobre alguns poetas. Não como um pesquisador, como um curioso. Afinal, a pessoa tem que saber alguma coisa sobre o que ela está fazendo. É como se estivesse “pedindo licença” para trilhar por este caminho, e reverenciando os que já trilharam.
Eu agradeço ao Oswald de Andrade por ter ousado em romper com os “moldes” de fazer poesia de antigamente: o Parnasianismo e o Simbolismo. Mas ele cometeu um ato que eu acho que foi um pecado: desfez dos poetas "antigos", e queimou livros dos poetas. A mesma coisa foram os Poetas Marginais: desfizeram dos poetas "antigos", queimaram livros de Drummond etc. Alguns até disseram desconhecer a poesia de Drummond. Eu acho isso uma falta de respeito. Se alguém não concorda com o que está sendo feito, exponha seu trabalho para ver se vai agradar o povo, se vai “pegar”. Mas não precisa desfazer de ninguém.

Olhem quantas “escolas” passaram pela poesia depois do Modernismo: o próprio Oswald criou a Antropofagia, em 1928/29. Em 1956 veio o Concretismo, querendo acabar com as palavras, propondo uma poesia mais visual do que literária. Em 1959, poetas ligados ao Concretismo se desentenderam e criaram o Neoconcretismo. Este, já se preocupando mais com as palavras. Em 1962 Mario Chamie cria o Praxismo. Em 1967 Wladimir Dias Pino cria o Poema-Processo. Este também, abandonando quase que completamente o uso das palavras. Eles confeccionaram um “pão poema-processo” de 2 metros, que foi comido por 5 mil pessoas, numa Feira de Arte de Recife. E finalmente em 1970 (mais ou menos), a “Geração Mimeógrafo” ou a Poesia Marginal (da qual eu sou fruto), com uma poesia mais desligada, sem compromisso com os métodos acadêmicos. O que foi bom na Poesia Marginal foi que ela não veio como uma “escola” ditando ordem, ditando conceitos. Ela veio rompendo com os já existentes e deixando a poesia livre de qualquer molde, de todas as normas.
Vou frisar mais uma vez: tudo isso que eu escrevi é fruto da minha leitura descompromissada, da minha curiosidade. Li como um lazer, não como um pesquisador em busca de fatos para comprovar alguma coisa. 

A.J. Cardiais

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