As pessoas que dizem só gostar de
MPB, fazem um “patrulhamento cultural” dos pecados, contra os outros estilos
musicais: axé music, sertanejo, arrocha, funk... Mas, antes de qualquer coisa,
vamos definir o que é “popular”: do povo, comum, barato, conhecido... Baseado
no significado da palavra “popular”, quem é mais popular: Chico Buarque ou
Amado Batista? Quem é mais popular: Ivete Sangalo ou Caetano Veloso? Então esta
“classificação” está errada. Os “mpbistas” geralmente cobram “poesia” na
musica. O que esses “patrulheiros” precisam aprender é que nem sempre a poesia
“se encaixa” em qualquer estilo musical. Tem muito pagode baiano que
praticamente não precisa de letra nenhuma. É só o “cantor” ficar enrolando: em
cima, embaixo, pro lado, pro outro, pra frente, pra trás... E o suingue da
musica vai levando o povo. E quando o compositor coloca uma letra engajada (ou
poética) em certos estilos, a musica não chega a ser muito divulgada, portanto
não é bem “digerida”. Um bom exemplo é o Zezé de Camargo: ele fez uma musica
que é um verdadeiro protesto (E Deus Por Nós), mas essa musica não foi muito
executada, apesar do sucesso da dupla Zezé de Camargo e Luciano. Então isso não
chamou a atenção dos “patrulheiros”. Outro exemplo é o do grupo baiano Terra
Samba, que chegou com a proposta de mudar um pouco o cenário musical baiano, apresentando
musicas mais “engajadas”, bem diferentes das musicas do É o Tchan! e
outros grupos que faziam sucesso na
época. Parece que as musicas do Terra Samba não agradaram tanto. Afinal, uma musica para entretenimento tem que
ser para “distrair” mesmo. Não cabe ficar fazendo o povo lembrar (ou saber) de
problemas. Assim sendo, ninguém vai se distrair. Se estou bem informado, o (a)
Axé Music começou como musica para o carnaval. Depois foi ganhando o resto do
ano, e chegou até onde está. Então se o Axé Music começou como musica para carnaval,
ele é “descendente” direto de Alalaô, Me Dá Um Dinheiro Aí, Se a Canoa Não
Virar... E outras marchinhas que são cantadas até hoje, com muito gosto, até
por alguns desses “patrulheiros”. O que fico reparando é o seguinte: enquanto
esta turma “mpbista” fica fazendo uma discriminação enorme contra os outros
estilos, Caetano Veloso aplaude, abraça e apoia todos eles. O próprio Caetano,
no auge do Tropicalismo, foi vaiado ao entrar num palco com o cantor Odair
José, porque Odair é considerado um cantor “brega”. Enquanto os “patrulheiros”
ficavam cobrando de Roberto Carlos um “engajamento político”, Caetano estava
dando musicas para Roberto gravar. Caetano gravou o “brega” de Fernando Mendes: "Você Não me Ensinou a Te Esquecer", e o Brasil todo cantou. Até por trás dos “bastidores
musicais” também tem muito artista cheio de preconceito, e sem respeito nenhum
ao colega. Não gostar do estilo que o artista canta é uma coisa, desfazer é
outra. Li que um pianista estava tocando a musica Tortura de Amor, e alguém perguntou
se ele sabia quem era o compositor daquele musica. Ele respondeu que não sabia.
Quando a pessoa revelou que a musica era do Waldik Soriano, o pianista parou de
tocar. Teve um outro (que não vou revelar o nome) que estava escolhendo musicas para o repertório do seu novo disco,
quando alguém sugeriu que ele gravasse “Quem Sabe”, uma musica de Carlos Gomes.
Ele então respondeu: essa musica não, porque já foi gravada por “outra pessoa”.
Essa “outra pessoa” que ele se referiu é o grande Agnaldo Timóteo. São estas
discriminações “internas e externas” que atrapalham o nosso “progresso”
musical. Se os “patrulheiros” querem brigar com alguém, que briguem com a
mídia. Ela que é a responsável pela propagação dessas musicas. O Maestro Isaac
Karabtchevsky disse que se divulgassem a musica erudita, o povo acabaria
gostando de musica erudita.
A respeito do título, tornei-me
Tropicalista porque na minha juventude, as pessoas da minha geração gostavam
mais da Jovem Guarda. Enquanto que eu, além de gostar da Jovem Guarda, gostava
também da “Velha Guarda” (Anísio Silva, Carlos Galhardo, Ataulfo Alves...), de
Luis Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Luis Vieira, Ademilde Fonseca e muitos
outros. A Jovem Guarda chegou, praticamente, sepultando o pessoal da “Velha
Guarda” e da Bossa Nova. Já o Tropicalismo chegou com o lema da Antropofagia:
“Encaixo tudo, somo, incorporo”. Quando vi que essa era minha praia, mergulhei
de cabeça.
A.J. Cardiais
imagem: google
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Caetano Veloso - A Voz do Morto
Um comentário:
Todos os estilos musicais fazem parte da cultura brasileira, sem discriminar nenhum deles.
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