imagem: google
Por
Hélio Pólvora
Escritor, membro da Academia de Letras da Bahia
Desconfio de repentinas mudanças
radicais feitas de um golpe só. A política no Brasil deita fogo e enxofre pelas
ventas há anos e anos, há séculos qual hidra de Lerna. Mas, ao contrário desta,
resiste ao corte fulminante de todos os tentáculos. Melhor desmembrá-la por
etapas, em prazos curtos e com persistência.
Seria a estratégia mais viável
contra fortes hábitos arraigados. Temos uma cultura de desfaçatez, peculato,
impunidade, suborno. A chamada “Lei de Gerson” diz que brasileiro gosta de
levar vantagem em tudo, certo? Aqui não é a ocasião que faz o ladrão; o ladrão
cria ocasiões – e nisso revela espantosa inventividade.
O plebiscito proposto pela
senhora presidenta, um dia depois de sugerir uma constituinte para a reforma,
provavelmente com o fito de ganhar tempo, extravasa a mera consulta popular.
Como reduzir a poucas perguntas o interminável rol de injustiças a reparar? A
mim, e creio que aos leitores em geral, pouco importa se o voto será
proporcional ou distrital, se haverá financiamento público ou privado das
campanhas.
Importa-nos saber, no entanto, se
a carga tributária será aliviada; se os parlamentares cortarão os penduricalhos
salariais; se deixarão de legislar em seu favor; se a representação legislativa
será reduzida; se cessarão as aposentadorias fantasmas no Congresso e no
Judiciário; se os cartões corporativos do Executivo terão limites; se...
Caso eu citasse todos os pleitos,
já teria esgotado o espaço deste artigo. Como, então, incluir nas perguntas do
plebiscito os reclames e anseios do povo, jovens e adultos em marchas de
protestos nas ruas? A reforma é larga. A inflação voltou. Receio que tentem nos
enganar outra vez, o que teria convulsão.
A presidenta convocou
governadores e prefeitos, pressionando-os a melhorar os serviços públicos. Em
suma, a cobrança, a bronca de sempre. Cabe ao Congresso, se ainda tem estofo,
aceitar a batata quente, preparar a planilha de um referendo e submetê-la à
sociedade.
Em: jornal A Tarde de
30/06/2013
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