Imagem: a.j. cardiais (Lara - a gata)
Eu nunca criei gatos. Aliás, nunca criei animal nenhum. Não por não
gostar de animais. Muito pelo contrário: eu gosto até demais. Nunca criei
porque acho que, se a gente resolve adotá-los, precisa dar toda atenção a eles.
E animal "doméstico" para mim é só gato e cachorro. Não me venha com
coelho, tartaruga, pássaros, macacos etc... E nem adianta me dizer que são
criados em cativeiro, porque espontaneamente eles não nascem em cativeiro. Eles
são de cativeiro por uma condição imposta pelo homem. Geralmente "os
ancestrais" deles foram aprisionados (ou mortos), e com isso eles perderam
o faro, o tino, os dons de viverem em seu habitat, e não puderam (ou souberam)
passar para os filhotes. Então, se soltassem um animal desses (de cativeiro),
eles seriam presas fáceis de outros animais ou do próprio homem. Voltemos aos
gatos:
Eu nunca criei gatos. Mas o meu neto um dia chegou com um aqui em casa.
Era um gatinho feio, coitadinho... Minha esposa brigou, reclamou, xingou... Mas
o gatinho ficou. Depois o gatinho obrou no banheiro (o gatinho já veio educado)
ela reclamou, falou, falou... Deixou pra lá. Minha filha, quando chegou do
trabalho, viu o gatinho e se apegou. No dia seguinte, o gatinho amanheceu
tremendo e vomitando... Como ninguém entendia de gatos, foi aquela preocupação:
dá isso, dá aquilo, faz isso, faz aquilo... Dá um chá. Chá de quê? Sei lá...
Reza. Reza pra quem? Pra São Francisco...
Com tanta preocupação, o gatinho ficou bom. Acho que ele queria mesmo era
chamar a atenção. E como chamou... Bem, o gatinho foi crescendo cheio de
atenções, de leite, de ração, de carne... Resultado: virou um gatão. Para dizer
melhor: um lindo gatão. Nem preciso dizer que ganhou nossos corações. Só para
vocês imaginarem: ele dormia com a gente. Minha mulher reclamava, brigava,
mandava que eu fizesse alguma coisa... Eu não fazia nada. Aliás, fazia sim. Eu
dizia: ele acha que nós somos a família dele. E nós não somos?
Pois bem, depois de tanto apego, uma vizinha começou a colocar veneno
para matar ratos... Morreu uma gata (Nina, a namorada de Pepe, o nosso gato),
morreu o segundo... Nós tentamos "segurar" o nosso gato, pois eu
sonhei com ele se debatendo. Morreu o terceiro... Pepe foi o quarto. O meu
neto, quando acordou, ficou sabendo. Aí começou a chorar: abriu o bueiro...
Mesmo assim foi pra escola. Quando ele voltou da escola, foi logo gritando: minha
vó, olhe o que eu trouxe? Era outro gato. Minha mulher reclamou, terêrê,
tarárá... O gato ficou. No outro dia, observando melhor, eu vi que era uma
gata. Falei com minha mulher. Ela reclamou, brigou, perêrê, parárá... A gata
está aqui, começando o reinado dela. Eu nunca criei gatos, porque não sabia que
eles são tão maravilhosos. E o nome da gata é Lara.
Obs. Os outros gatos morreram distante da casa da
"envenenadora". Já Pepe morreu bem na porta da casa dela. Foi como se
estivesse denunciando-a. Depois disso, ela parou de colocar veneno para ratos.
A.J. Cardiais
29.05.2011
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